segunda-feira, 19 de julho de 2010

A ponte Havana-Madri

A ponte Havana-Madri
Os irmãos Castro estão esvaziando de dissidentes os cárceres de La Habana em cumprimento a acordo firmado com a Igreja Católica e o governo de Espanha, pelo qual esses presos políticos seriam postos em liberdade, como, de facto, já o estão sendo, por etapas, a fim de viverem em terra espanhola. Acompanhados de suas mulheres, as Damas de Branco, que experimentaram lampejos de fama durante o breve período em que desfilaram por “calles” de Cuba com cartazes clamando pela luz do dia para seus familiares encarcerados, uns por crimes comuns e outros por atentados à segurança do Estado. Desnecessário acrescentar as ações sediciosas praticadas por antepassados seus na ilha caribenha, sob o guante de Fulgêncio Batista, que se cercara de mafiosos de todos os talantes em redor do pano verde de um cassino que funcionava em um hotel, presentes, às vezes, para fazerem a sua ‘fezinha’, artistas de Hollywood e, inclusive, o primeiro-ministro britânico Winston Churchill com o seu inapartável charuto – de boa folha.
Os cubanos que estão deixando a ilha em vôos oferecidos pelo governo espanhol tiveram suas penas revistas com a interferência do Vaticano, integrando um grupo de 75 opositores ao regime castrista. Alguns chegaram à greve de fome, tendo um deles ido ao extremo de recusar alimentos até morrer por inanição, daí aparecerem nas ruas as chamadas “Damas de Branco”, sem a repercussão que esperavam ter da imprensa.
Tudo começou na primavera de 2003, quando a Revolução Cubana vinha se sentindo ameaçada, como de outras vezes, a partir do episódio da fracassada invasão de Cuba através da “Bahia de Los Cochinos’, próximo ao balneário de Playa Girón. Anticastristas aboletados em Miami, armados e treinados do lado oculto do governo norte-americano, se lançaram ao mar àquela época, com os seus botes, e ao tocarem a costa caribenha, em Playa Girón, encontram forte resistência, avassaladora, que ficou na memória de cada cubano orgulhoso de sua Revolução várias vezes objeto de sabotagens por parte da CIA e da Máfia lá instalada desde o governo de Fulgêncio Batista, um escroque agalardoado pelos ianques, que lhe permitiam a exploração de cassinos e da prostituição. Cite-se neste particular o ponto mais popular da época, conhecido como “Calle de las Virtudes”.
Em 1º de janeiro de 1959 caía Fulgêncio Batista. Dava-se algo como uma explosão nuclear no mundo ocidental e que se traduzia por Revolução Cubana, acionada por uma tríade de heróis: Fidel Castro, que assumiria o governo com a orientação de seu irmão – Raúl Castro, Che Guevara e Camilo Cienfuegos. Toda a imprensa se mobilizou para cobrir o feito histórico. Talvez a maioria dos órgãos de comunicação do Ocidente, porém, olhasse com certo desdém aquele movimento revolucionário, que feria contundentemente uma tradição da qual os Estados Unidos, principalmente, não abririam mão com facilidade: o imperialismo, seguido do neocolonialismo. De todo modo, estavam lançados os dados.
Do Rio de Janeiro, quando capital da República, o Diário da Noite, órgão dos Diários e Emissoras Associados, de Assis Chateaubriand, enviava ao Caribe o repórter gaúcho José Silveira mais para observar (puxando a brasa para a sardinha dos interesses ocidentais) o movimento encabeçado por Fidel e Che do que, propriamente, para dar-lhe cobertura, fosse com relativa neutralidade.
Umas duas semanas depois voltava José Silveira acompanhado de um repórter fotográfico, trazendo farto material sobre os primeiros novos dias cubanos, tendo-nos ele confidenciado, contudo, no retorno, que se achava impedido de publicá-lo como desejava, por ordem superior mas de fora do jornal. A reportagem, fiel ao que os repórteres testemunharam (já não me lembro quem fez as fotos) saiu, mas tendo-se tirado uns dez exemplares, apenas, como comprovação perante a tesouraria de que fora realizada, acabando por sua publicação normal ser vetada pela alta direção do vespertino da rua Sacadura Cabral e cuja redação ficava alguns andares abaixo de um dos muitos restaurantes do Saps espalhados pelo país - um dos frutos da boa política social de Getúlio Vargas. Pelo menos dois exemplares da edição interrompida a tempo na impressora passaram de mão em mão dentro das oficinas, os gráficos com a primazia da primeira leitura sobre a derrubada de Fulgêncio e seus asseclas. Chateaubriand, ao que parecia, nada tinha que ver com a edição que não chegou a rodar; tampouco Orlando Motta, editor-chefe do DN, jornal que vinha caindo dia a dia, até alguns luminares terem a idéia de argentinilizá-lo no formato, de tablóide, tomando como modelo El Clarín, de Buenos Aires. E trouxeram do pampa portenho um técnico em tablóides para a transformação do Diário da Noite, do Rio. Veio também Alberto Dines, incumbido de executar o projeto, que teoricamente tinha por base a suposição de que o que vendia mesmo jornal eram excelentes colunistas e não o noticiário em si.
Fez-se a transformação, baldeando de Ultima Hora para o Diário da Noite A Vida Como Ela É, de Nelson Rodrigues e a nata do colunismo social de outros jornais.
O resultado não podia ser pior. O Diário da Noite entra em declínio. Em Ultima Hora, que perdera A Vida Como Ela É, logo se apresentou um de seus redatores com uma coluna similar à de Nelson. E tudo foi se acomodando, sem o menor prejuízo para o noticiário geral. Exceto no Diário da Noite, que acabou amanhecendo, dias depois, com o cadeado na porta. Mania de modernidade...
Correm os anos, estamos em outra lua
. Reacende-se um movimento, desatado da Flórida e com o fole da Casa Branca, visando ao derruimento da Revolução Cubana.
Ao que se sabe e por fontes da dissidência castrista, dois dos presos políticos, agora em liberdade, recusaram o vôo humanitário para a Espanha, preferindo ficar em Cuba.

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