sexta-feira, 22 de maio de 2009

Estado palestino, eis a questão



Sob a mira da ocupação



Até estas horas não se sabe ao certo a que veio o novo presidente dos Estados Unidos que pudesse dar um outro rumo à Humanidade, menos acidentado, sendo ele, ou se presumindo, numa interpretação histórica dos factos, o atual imperador do mundo ocidental. A não ser – o que mais,? – a fim de trocar amabilidades em encontros internacionais e, às vezes, como na V Cúpula das Américas, a “cúpula do calypso” na feliz expressão de um jornalista de Madrid, salpicando-os com pitadas de humor. O presidente do Brasil. Luiz Inácio Lula da Silva, que se tornou conhecido por algumas luas nos bastidores da política transoceânica como “O Cara” ouviu de Barack Obama, como ouviram, também, outros mandatários, enternecedores gestos de amizade. Literalmente, o dizer português (ou inglês) popular: “Quero ser seu amigo”; faltando só, entre nós – brasileiros, o complemento: hein, meu chapa!
Barack Obama, seguindo a tradição da diplomacia imperial de Norte América, e a guardar as idéias de seu antecessor, George W. Bush, para pô-las em prática na hora precisa, aterrissara em Porto de Espanha pisando em ovos, mas fazendo-se en passant o anfitrião de “La Cumbre del Calypso”. E logo retribuindo com uma alfinetada em Hugo Chávez, presidente da Venezuela, que acabara de presenteá-lo com a obra maior de Eduardo Galeano, com a bíblia das esquerdas latino-americanas – “As Veias Abertas da América Latina”. Ao ver o livro passar às suas mãos. Barack Obama não perdeu tempo, sentindo-se, naturalmente, espirituoso: “Pensei que fosse um dos livros do Chávez; já ia lhe dar um dos meus”.
Faltou quem lhe puxasse o fraque para perguntar-lhe de quais livros era ele autor.
Já nas portadas de sua administração, Obama respondia ao caos do governo Bush com medidas chamadas - ao correr da pena - humanitárias; de todo modo, palatáveis, numa dosagem razoável para que merecesse elogios da opinião pública. Medidas voltadas, principalmente, a Guantánamo e outros cárceres políticos semeados mundo afora para manter o neoliberalismo econômico e, por consequência, a armadura hegemônica do Império Americano. Além de ter acenado com flexibilidade nas relações EUA-Cuba sem chegar ao ponto de mudar os planos de Washington para a ilha visando a subjugá-la após atraí-la à órbita do imperialismo.
Mas a opinião pública não cai assim tão fácil numa esparrela. Viu o presidente dos Estados Unidos pegar na pena e ordenar a reabertura dos tribunais militares de Bush para julgamento de encarcerados em Guantánamo. Raúl Castro, ao perceber a astúcia de Obama – em quem não se podia confiar – pensara, certamente – preferiu a quietude da discrição a comprometer suas divisas e a própria continuidade da Revolução Cubana.
Dias antes, as decisões do novo presidente americano foram, ao contrário das mais recentes, no sentido de se dar divulgação às atrocidades da administração anterior tanto no “território caribenho ocupado” (Guantánamo, pois é), como no Oriente Médio.
Um passo adiante, um passo atrás... É como parece andar o novo ocupante da Casa Branca.
As cíclicas e conceituais divergências dir-se-ia em família não o impedem de caminhar nem sempre lado a lado com Israel, mas numa só direção: a do interesse mútuo, que acaba traduzindo-se numa mútua dependência. Isto significa que Israel associa, como na questão, em pauta, dos ”territórios ocupados”, um Estado palestino a um presumido crepitar de terrorismo, ao passo que os Estados Unidos de Obama já não veem nisso ameaça alguma ao Império americano-judaico. Pelo menos, é o que pensa, ou deve estar pensando, o sucessor de Bush no limiar de seu governo. E é bom não esquecer que a Agência Central de Inteligência e o Pentágono abrem sombra a qualquer um que se alce à presidência dos Estados Unidos, seja do Partido Republicano, seja do Partido Democrata. (A propósito, cabe aqui a leitura de “Crimes de Guerra do Vietnã”, do filósofo Bertrand Russel).
No encontro de maio de 2009, em Washington, do premier israelense Benjamin Netanyahu com o presidente estadunidense, este bateu na tecla de um Estado palestino e considerou imprudência tentar forçar o Irã a desistir de armas nucleares. Netanyahu, ainda assediado por fantasmas do terror, continuou discordando da tese defendida por seu par, de um Estado palestino como uma necessidade estratégica para se alcançar a paz no Oriente Médio.
Contudo, os apertos de mão entre os dois são sinceros, não há por que duvidar disso. Está-se diante de uma longa trajetória percorrida por ambos os “tarzans” e havendo ainda muito que percorrer. Acrescente-se que a segurança do Estado judeu se acha nas mãos dos Estados Unidos da América. Por isso mesmo, Benjamin Netanyahu não se poupou de dar uma puxadinha de orelha em Barack Obama, alertando-o para a hipótese de um Irã civilizadamente armado, no estilo Século XXI. Apesar de discordar, em tese, de seu colega no equacionamento do separatismo de judeus e palestinos, Obama disse concordar com ele em que “o Irã com armas nucleares é sempre motivo de preocupação, não só para Israel e EUA, senão para toda a comunidade internacional”.
O presidente estadunidense, em suma, fez ver a Netanyahu que o melhor caminho para se chegar a um consenso sobre o problema das armas nucleares seria a negociação com o regime de Teerã. E pesa na balança o facto de que 70 por cento, ou mais, dos judeus norte-americanos votaram em Barack Obama.

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