Sete anos após o presidente George W. Bush lançar o seu ultimato a Saddam Hussein para abandonar terras islâmicas, e de ter uma conversa reservada com Deus, de quem ouviu, o presidente contava depois – ‘George, entre com suas tropas em marcha batida no Iraque! (Foi o que informou a BBC de Londres na ocasião) – Estados Unidos e Reino Unido, carne e unha, iniciaram sua ofensiva com mísseis, acompanhados em telinhas de cinema-verdade instaladas no QG atapetado de veludo das operações por controle remoto, e despejados sobre Bagdá. Já no dia 1° de abril (2003) Bush declarava cumprida a missão que lhe reservara, só podia ser, não Deus mas o arrais da Barca do Inferno, auto de 1516 do dramaturgo português Gil Vicente!
Anos 80, uma das estrelas do firmamento estadunidense, numa época de vendaval na Casa Branca e seus serviços de Inteligência, Donald Humsfeld, que viria a ocupar de 2001 a 2006 o cargo de secretário de Defesa, se incumbia de traçar as linhas mestras do que se conhece hoje por “projeto para um novo século”. Como já devem saber, por outro artigo, em espanhol, deste meu blog, A História no Jornal), não se tratava de outra coisa senão de derrubada do World Trade Center: um projeto de logística destinado a provocar comoção planetária, se assim se pode defini-lo de acordo com a régua e o compasso de estrategistas do “massacre de Halloween”, uma fantasia de terror em baile de gala a que não falta, para aliviar tensões, passos a la Michael Jackson. Pelo olhar sereno da História, a chamada ‘guerra fria’ não se acabara sob o foco dos escombros produzidos do World Trade Center. E as festas de Halloween, a julgar pelas transcrições de atas das reuniões a portas fechadas das comissões técnicas do parlamento, em especial a da Igreja: a mais ativa na medida em que espocavam os escândalos, ironicamente expressavam “a raiva de todos os contribuintes norte-americanos” contra o statu quo. A fantasia do terror foi mencionada no Congresso, em memorando a respeito de escândalos como Watergate e Koreagate, da prática de operações encobertas referentes a assassinatos, inclusive o de Omar Torrijos, no Panamá, morto em ‘acidente aéreo’ intencional, de líderes estrangeiros, lá pelo ano de 1975, tudo isso refletindo-se acintosamente na face de um parlamento em que Jack Murtha Jr. era uma dessas raras figuras a se levantarem contra a política de tempos tão conturbados e libidinosos, sem olvidar-se o caso da estagiária a desabotoar as calças de um presidente em seu gabinete. Além do mais, sem que precisassem consultar o Decameron. E Jack Murtha, falecido agora em fevereiro de 2010, era do Partido Democrata, representava 12 parlamentares da Pennsylvania, tendo sido reeleito sucessivamente a cada dois anos, a partir de 1974. Uma figura, pois, de respeito para os americanos e invejável prestígio.
Em 13 de dezembro de 2003 o Exército americano descobre Saddam, escondido num grotão próximo a Tilkrit, capital da província de Sallad Ad-Din, impondo-lhe estranha e humilhante rendição, não de vencido numa guerra, que não houve, posto que o Iraque não tinha mais como oferecer-lhe resistência, uma vez ocupado por adversários naturais do regime husseiniano,
e sim de uma só força bélica, a estadunidense, com o apoio do reino de Elizabeth II com os seus gurkas (africanos experts em decapitação, levados, entre outras guerras, à das Malvinas; mas não confundir gurka com burka, que é o véu usual entre mulheres islâmicas).
Em 30 de dezembro de 2006, os Estados Unidos da América levam o estadista árabe ao patíbulo dentro de seu próprio país, o Iraque. Saddam Hussein entrega-se de cabeça erguida a seus algozes. Anos 80, aos 69 anos cai ele, enforcado, no catafalso, o semblante aparentemente tranqüilo, os olhos desvendados, após haver balbuciado uma oração. Que só Deus ouviria.
Em junho de 2004 o governo interino de Alauí se alça ao poder no Iraque e, decorridos seis meses, realizavam-se eleições, seguindo-se a aprovação ad referendum, em 15 de outubro de 2005, de nova Constituição, que viria substituir a deixada por Saddam. Em dezembro do mesmo ano são convocadas novas eleições legislativas e em maio de 2006 Chii nuri al Malik compõe seu governo.
Quanto a George W. Bush, o arrais da Barca do Inferno deve estar a esperá-lo...
E vale refletir em que George W.Bush, depois de tudo que fizera, não pôde resistir aos impulsos de um ‘mea culpa’ que deve ter calado fundo em suas entranhas. As fotos de Abu Ghraib, que correram mundo através da imprensa e da Internet, especialmente pelas mãos de milhões de internautas, ficaram como um triste legado para futuras reflexões sobre até que ponto chega a baixeza de uma correlação de forças do mal. Permanecem as palavras de Abdel-Bari Atwan, à época, editor do jornal, rodado em Londres, Al-Quds al-Arabi em entrevista ao canal de tevê Al Jazeera: “A opinião pública árabe se pergunta quem deve ser julgado e justiçado: Saddam Hussein, que preservou a unidade do Iraque, sua identidade árabe e muçulmana e a coexistência de comunidades étnicas como a dos xiitas e a dos sunitas ou aqueles que mergulharam o país numa sangrenta guerra civil!”.
Saddam já havia sido executado, sem que nenhum dos juízes aprovados por Washington o impedisse – dois outros acolhiam o voto dos advogados de defesa e estes acabaram sendo eliminados – quando Bush surpreende olhando-se no espelho. Simplesmente, se dá conta de que Saddam Hussein caíra numa armadilha, montada não se sabe por quem, se pelo próprio Bush ou por Humsfeld, que falava e, às vezes, também agia pelo presidente. De todo modo, Bush desabafa ou finge desabafar, já com Saddam no estrado da morte. Diz ter sido ele assassinado, por vingança, o que não foi bem digerido pelos guardiães do petróleo árabe.
quinta-feira, 19 de agosto de 2010
Fantasia do terror: a nova ideologia
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário