sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Em busca dos universais linguisticos


Em busca dos universais linguísticos *

Com “o exercício do ato de sentir”


Qual o papel da linguagem na cognição? “Contar uma história” a este respeito, “e refletir as aquisições da criança na decodificação e construção de estruturas linguísticas”, é o que fundamentalmente procura fazer Dan Isaac Slobin em Psicolinguística, que chegou ao Brasil em 1980, vol. 16 da coleção Biblioteca Universitária, série 5ª – Letras e Linguística.
A edição príncipe vem acrescida de observações – feitas por Slobin e por outros pesquisadores do Departamento de Psicologia da Universidade da Califórnia no campo dos universais linguísticos e/ou dos fundamentos biológicos da linguagem. Slobin explica: "Começamos a pôr a linguagem humana numa estrutura universal, tanto em termos dos universais linguísticos dos sistemas de comunicação de nossas espécies, como em termos do meio biológico do comportamento humano típico”,
Refere com particular admiração a influência que sobre ele e seus companheiros de pós-graduação no Center for Cognitive Studies, de Harward, nos anos de 1960 e 64, exerceu Noam Chonsky com “as novas formulações de gramática transformacional e sua eventual significação psicológica”. E recorda ter sido Jerome Bruner quem então os levou até os estudos do soviético L,.S.Yygorsky, que não se desviara dos rumos traçados à Fisiologia por René Descartes, Ivan M. Sèchenov e Ivan Petrovich Pavlov e aos do suíço Jean Piaget ,que acabou procedendo de forma um pouco análoga, dando a suas investigações certo sentido ontogênico, biológico. Com seu primeiro livro, editado em 1923, Le langage et la penseé chez l’énfant, Piaget tivera a oposição de Vygotsky pelo fato, p.ex., de atribuir a uma “incontinência verbal”precoce a fala egocêntrica na qual não viu como Slobin registra funções especiais.Vygotsky já sustentava que a função da fala egocêntrica assemelhava-se à da fala interior. Ela não apenas acompanha a atividade da criança; serve de orientação mental, compreensão consciente, ajuda a venccr dificuldades; é fala para si mesma, ligada íntima e proveitosamente ao pensamento infantil.(...) No fim, ela se torna fala interior”.
O próprio Dan Isaac Slobin opina que “a aquisição da linguagem é dirigida por princípios estruturais inatos, alguns dos quais são exclusivamente para esta tarefa especial, sendo alguns outros mais gerais”. Uma posição dir-se-á nativista, que ele mesmo, por sinal, admite, ou melhor, naturalista. Implicitamente, de um fisiolinguista. Significa que numa 3ª edição não seria incorreto apor a tal título, a escolher, “ou Fisiolinguistica”.
Ele explicita: “já dissemos o bastante para lançar sérias dúvidas sobre a idéia – comum a muita prática educacional – de que a língua é a fonte do desenvolvimento mental. E também debatemos a idéia de que as diferenças culturais se refletem com déficits gerais em capacidade da mente. Entretanto, continua sendo meta de uma boa parte da educação nos Estados Unidos tentar, em relação às crianças pequenas negras, portorriquenhas, mexicanas e asiáticas (e até surdos), que falem o inglês americano, padrão da classe média (Standard Middle-Class American English, geralmente mencionado pelos pofessores como inglês correto (...) .Slobin reconhece na criança uma capacidade de construir línguas. E Nicolas Ivanovith Krasnogorski já em suas primeiras observações (1907-1913), sobre o desenvolvimento da linguagm infantil (La actividad nerviosa superior del niño, ediciones en lenguas extranjeras, Moscou,1960) ... constatava que as reações elocutivas são no fundo reflexos que se formam segundo as leis das conexões temporais” ... Krasnorgoski, que se destacou como um dos maiores discípulos e seguidores de Pavlov, tendo publicado sua primeira comunicação dessa especialidade no n° 36 da revista Russki Vrach em 1907 sob o título Obtenção de reflexos condicionados das crianças” expõe que no homem, à diferença dos animais, predomina um analisador locutivomotor especial composto de células cinestésicas que percebem os estímulos internos vindos dos músculos vocais. E que a existência nele de um sistema elocutivo de sinalização especial – a realizar a atividade verbal – faz com que tal sistema reflita o mundo externo e interno no homem, nos reflexos elocutivos, constituindo assim a base do conhecimento. “O método fisiológico no estudo da atividade dos sistemas de sinalização do cérebro tem aberto amplo acesso à investigação científica experimental não só do mundo exterior como também do mundo interior – através do sistema locutivo.
Em suma, a corrente pavloviana testemunha uma suficiência de linguagem sensorial ao término do 1° ano de vida, com o desenvolvimento bastante significativo da função conectora do córtex (ou córtice) cerebral da criança. Isso quer dizer que ela, em tal estágio, compreende muitas palavras, ainda que não as pronuncie.
Dentro deste quadro expositivo de natureza essencialmente fisiológica é que parecem movimentar-se psicólogos do porte de Dan Isaac Slobin, que realiza gradualmente em Berkeley, desde 1964, um programa de estudo de aquisição da linguagem, envolvendo duas (ou mais) línguas. Diz ter passado os anos de 1969-70 e 1972-73 na Turquia,” aprendendo o turco e também observando como as criancinhas aprendem esse idioma”. Para ele, é uma língua rica e fascinante, que lhe fornece contrastes com o inglês e o leva a pensar em universais linguísticos.
O problema, como se percebe, é mais de ciências naturais do que de outra área. E não seriam os universais lingüísticos a base sensorial do conhecimento? Para ilustrar, ou divertir, vejamos um trecho de conto da escritora Esther Lúcio Bittencourt, autora de No país das palavras onde moram os homens mudos, edição São José, 1975, rodado também em mimeógrafo para a antiga Feira do Autor, uma feira que funcionou por algum tempo no Campo de São Bento, Niterói, reunindo escritores e artistas de vários Estados, com ampla repercução no meio cultural do Rio, São Paulo e Minas Gerais, principalmente.
O conto é apresentado como parte de uma série por título flagra e que a autora explica tratar-se de “exercício do ato de sentir”:

Arimori camireri vilupodi drinca de sula Olibali peri nodi ende virdi. Manilamente vidi ensi malo viguibinte. Osú, Arimori. La mergue de plengue viguiri la virma emos de los pies entre dos. Vijo. Arimori ni. E ni. e ni. La plantica vertiplenta vibri entra drei erere mele duestra plei. Duolo. Isare capricou vitile emirante deli... E tal “exercício do ato de sentir” levou-me a compor o soneto que se segue:




Marchim de fasta, fuesta delevisa.
Mergue de plengue, vijo tus sonombres.
Encorpulo de vim los emos amos.
Ama la vela de los nolos dami.
Corsas di visde nostaljuramani.
Pianze mnodo ritime ni de mer.
Zivali poli poli valipor.
Falui de mari, ni le mali amon.
Incelo in te conosconoscision.
Segrido mei, la plaga melitosa.
Visuando mele duestra plei sensare.
Camireri de panto, sulaminte.
Sula manifaciene d’emirade.
Manilamente vidi en ti – Isare.


* O Fluminense, Caderno Encontro, 19 e 20 de outubro de 1980; Fernando Henriques Gonçalves

4 comentários:

Unknown disse...

Achei interessante, inclusive, o soneto no final.

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Muito importante a materia da psicolinguistica sobretudo neste merce atencao na abordagem da orientacao mental da crianca