segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Barack Obama alinha sua defesa

O Presidente e a Primeira Dama

O 11 de Setembro nos Estados Unidos transcorreu num clima bastante agitado, de confrontos seguidos que pareciam não ter fim, entre adeptos dos mais variados credos religiosos. O que seria uma homenagem tranqüila em memória dos 2.752 mortos do World Trade Center, em números oficiais, transformou-se, à medida que chegavam caravanas de todos os pontos do país em verdadeiro entrecruzamento de fiéis levando cartazes, contra e a favor da construção de uma mesquita no marco zero das Torres Gêmeas, além de bíblias, crucifixos, velas e exemplares do Alcorão. Vendedores ambulantes com suas barracas desmontáveis não faltavam: a Bíblia ao lado do Alcorão, em coexistência pacífica, indiferentes a alguns sopapos trocados em meio às discussões fora das vistas da polícia, mais preocupada em garantir a livre manifestação dos fiéis nos limites da permissibilidade constitucional.
O presidente Barack Obama compareceu com sua mulher, Michelle Obama, a uma cerimônia realizada no Pentágono em honra das vítimas da queda das Torres Gêmeas. Michelle estava, também, acompanhada da ex-primeira Dama, Laura Bush. O presidente aparentava certa frustração por não ter ainda conseguido a concórdia plena em seu governo, mas esperava chegar a um consenso em curto espaço de tempo, embora as eleições parlamentares estejam bem póximas. Analistas políticos dos próprios Estados Unidos prevêem dias difíceis para o presidente, embora o disfarce dê às vezes a impressão de achar-se deslocado no meio político em que vive. No ato solene do Pentágono, expressou-se com relação ao 11 de Setembro como sendo “um dia de reflexão e de recordação”, e acrescentou: “E espero que seja também um dia de unidade”.
Obama anda preocupado com o divisionismo que ele sente de perto ranger na estrutura da administração pública estadunidense. Hillary Clinton seria de todo confiável na condução da política de Estado? Não teria metido os pés pelas mãos nas questões internacionais em que o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, foi chamado a colaborar na arbitragem? Teria havido um entrechoque de interpretações de um dito não se sabe se irônico ou de inocente bom-humor, qual seja “o Cara”, como Obama se referiu a Lula ao recebê-lo na Casa Branca logo após haver assumido o Governo?
Barack Obama talvez não tivesse a medida exata dos problemas menos específicos da nacionalidade do que os propriamente políticos que iria enfrentar, quando preparava-se para assumir um poder não poucas vezes manchado por disputas interpartidárias, por escândalos do tipo Watergate, que afastou Richard Nixon (o poeta chileno Pablo Neruda classificou em versos essa era de nixonicídio), inclusive com o sangue de Jonh Kennedy, derramado em Dallas.
Já se fala nos corredores de Washington em divisão de poder na crista do enxame de membros dos partidos Democrata e Republicano, a rigor uma só legenda partidária mas que no frigir de ovos respinga sérias divergências no Salão Oval da Casa Branca e no Congresso. Em todo caso, é a democracia tal como a ensinam seus arautos a países qualificados como emergentes. De resto, o que se conclui é que as próximas eleições parlamentares norte-americanas estariam reservando a Barack Obama para seu segundo mandato – se houver – algumas surpresas desagradáveis, notadamente a recuperação de votos pelo Partido Republicano, o partido de George W. Bush e família, sua família política de triste memória.
Qual um guerreiro que pegasse sua lança e escudo, paramentando-se adequadamente para a guerra que já dá sinais de aproximar-se dele, o primeiro presidente negro americano interrompeu já em fins de agosto (2010) as férias de um republicano de peso, Ben Bernanke, numa ilha do Estado de Massachusets trazendo-o para a chefia do Federal Reserve. Assim, vai alinhando sua defesa contra possíveis intempéries nessas eleições, que podem obrigá-lo a uma mudança de rumo, se for de facto reeleito, conforme espera, acredita-se, a maioria dos americanos. Contudo, o sistema eleitoral de lá não é tão democrático como o brasileiro, por exemplo.


sábado, 11 de setembro de 2010

Mídia americana se dá mal com Fidel

Nove anos de 11-S








A interpretação enviesada de declarações feitas dia 9, de 20010, pelo comandante Fidel Castro do alto de seus 84 anos em boa forma (física e mental) agitou por um dia a comunidade anticastrista arranchada principalmente em Miami, levando-a a acreditar haver chegado a hora de preparar-se de facto para descer de paraquedas, em segurança, sobre Cuba. Certamente pensavam que botes, agora, são coisa do imaginário de ‘los cochinos’...
A entrevista de Fidel alcançou em minutos, entregue à mídia em inglês, o que facilitou sua difusão mundo em fora, enorme repercussão – somente contida com a interveniência do ex-presidente cubano.
E ele, apressando-se na retificação do que lhe haviam atribuído talvez por desconhecimento de algumas construções em língua hispânica, imaginou-se, dir-se-ia diante de um quadro negro, a pegar num giz e escrever: Onde se lê... O modelo cubano já não serve mais a Cuba, como poderíamos exportá-lo? Leia-se que o modelo capitalista é que não nos serve. E seria o caso, então, de responder inclusive que a ilha caribenha, enfim, por não ser de modelo capitalista, de bom grado poderia recomendar, a quem interessar pudesse, importá-lo dos Estados Unidos, apesar de tal produto, ao parecer, achar-se em final de estoque.
A julgar pelo que também se vê largamente publicado nos Estados Unidos, para consumo interno e exportação, Osama bin Laden tornou-se após, naturalmente, a destruição do World Trade Center o mais recente mito da crendice estadunidense. Isto, em meio a suas andanças de alma penada por montanhas islâmicas, aonde dizia-se que se refugiara, além de um tour que fizera pelo Oriente Médio e o Mundo Árabe, justamente numa hora em que só faltou ao governo de George W. Bush disseminar palmo a palmo pelas paredes de Norteamérica cartazes com a foto de Osama, a procurá-lo vivo ou morto mediante gorda recompensa. Ao contrário disso, entretanto, do que se teve conhecimento foi que Osama bin Ladem encontrara-se às furtivas com ministros de Bush, reconhecidamente de ultradireita, na Arábia Saudita e em Dubai, por exemplo, ajustando problemas de saúde e de logística. Runsfeld e Cheney, que passaram pelo ministério da Defesa do governo de George W. Bush, estiveram envolvidos na trama para a derrubada do World Trade Center. Tratava-se, para eles, de uma ação semelhante à de Pearl Arbor, que precedera as bombas de Hiroshima e Nagazaki. Uma ação costurada dentro do “projeto para um novo século”, sobre o qual já falamos numa série de artigos publicados neste blog, A História no Jornal”, titulada El 11-S y Sus Raíces.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

A Guerra das Malvinas

Um reino visto dos aposentos






“No habrá paz definitiva si se vueve al status colonial” – Leopoldo Galtieri.




Esperava-se que em setembro de 1982, a quatro meses do sesquicentenário da ocupação das Malvinas e seus departamentos – as Geórgias e as Sanduich do Sul – por piratas antevitorianos e que não faria muito sentido celebrar, tendo estas ilhas voltado para domínio platense por um período embora curto: de 2 de abril até 13 de junho, véspera de nova troca de bandeira, a República Argentina conseguisse a inclusão proposta pelo México de ‘vieja querella’ com o Reino Unido em mais uma rodada de trabalhos da Assembléia Geral da ONU. Ainda que sabendo-se que dali por diante a Argentina, recém-saída de uma derrota militar, pelo menos por algum tempo teria praticamente reduzidas a zero as possibilidades de um desfecho em tal instância que correspondesse de facto aos interesses de seu povo e, extensivamente, das demais nações latino-americanas.

A circunstância de ter aquela ação no Atlântico Sul partido de um sistema castrense então mal das pernas, sabidamente lesivo a direitos humanos – tortura, extermínio, desaparecimentos políticos – facilitou a muitos articulistas e/ou editorialistas uma inclinação ostensiva, alienada, alienante, na imprensa brasileira, para o lado europeu, o colonialista, tido como o civilizado, para uma “velha aliança” em assuntos de guerra e de petróleo – anglo-norte-americana.

Ainda no governo platense do general Jorge Rafael Videla, seguindo instruções ou diretrizes traçadas pelo grande latifundiário e anglófilo Martinez de Hoz, foram feitas discretas concessões a uma transnacional para exploração de lençóis de petróleo na plataforma marítima da Argentina. E pouco antes de rebentar o conflito com a Grã-Bretanha um advogado especialista em assuntos energéticos, Adolfo Silenzi de Stagni, lançava o seu livro Las Malvinas y el Petróleo, ed. El Cid, nele denunciando a iminência da entrega das riquezas sedimentares platenses aos ingleses e seus aliados naturais, a começar pela privatização da Yacimientos Petrolíferos Fiscales (equivalente à Petrobras) em troca do direito de a ‘celeste y blanca’ tremular sobre as Falklands. Isto, para kelper ver. Não demorou, o tenente-general Leopoldo Galtieri entornava o caldo... Pela primeira vez na história da repressão argentina a Coroa britânica, fora dos aposentos da Rainha, quer dizer, publicamente, passa a considerá-lo um déspota.

Acontece a I Guerra das Malvinas: os ingleses no ataque, o submarino atômico Conqueror, sob o comando de Christopher Brown, acertando em cheio e à margem da zona de guerra o cruzador Belgrano; os argentinos no contra-ataque, na defensiva. E decorridos cinco dias da rendição das tropas do general Menéndez a uma das forças-tarefas da OTAN, a da Royal Navy, na capital das ilhas (por imposição das armas, de novo Falklands), ou seja, às 14 horas de 19 de junho, helicópteros britânicos atacavam e tomavam a estação científica Corveta Uruguai, assim denominada em honra dos tripulantes da embarcação utilizada para o resgate do sueco Otto Nordenskijold, um dos expedicionários de nacionalidades várias, a maioria predadores da fauna marinha, tendo sido este o caso de muitos ingleses e norte-americanos a passarem por lá, a desafiarem o clima e a topografia hostis, a terminarem dando-se por vencidos - no ponto culminante do Arco Antilhano Austral.

É, ou foi, uma base de observações e pesquisas para fins pacíficos, de preferência na área meteorológica, que a República Argentina inaugurava oficialmente a 18 de março de1977 (instalara-a em 1976) numa ilhota por nome Morell, uma das três do grupo Thule, de um total de onze de que se compõe o acidentadíssimo arquipélago das Sanduich do Sul, isso, quase 1 ano após a deposição de Isabelita Perón e do conseqüente advento de um regime triunviral, com substituições de anéis no seu fluxo cronológico, até à retirada também dos dedos (exceto o da CIA), já em razão da queda do presidente Leopoldo Galtieri cujas causas não estão bem esclarecidas: sabe-se que o general rebelde, ou aventureiro, perdeu a guerra, ou algumas batalhas, no Atlântico Sul, porém o facto que mais pesou na balança foi o de ter ele perdido para sempre a confiança de Washington. Pragmaticamente, fizera-se nacionalista. Para a CIA, para o Pentágono, a mesma coisa que ser comunista.

Do confortável ainda que não de todo relaxante nº 10 de Downing Street, a um tempo residência da primeira-ministra e QG do governo do Reino Unido, Margaret Thatcher, a Dama de Ferro, manda notificar os terceiro-mundistas de que os argentinos de Thule do Sul não ofereceram qualquer tipo de resistência. O comunicado britânico sobre mais essa operação somente não mencionou entrega de armas pelo ‘inimigo’ a fim de constar no inventário do ‘espólio de guerra’ das Malvinas, o qual incluiria mísseis Exocet (segundo Londres) e outros engenhos de igual ou menor valor – utilizáveis em futuras incursões e até então camuflados pela resistência platense. Os dez ou onze homens da estação científica Corveta Uruguai estavam desarmados; o que empunhavam eram bandeiras com pombas de Picasso...

Entrementes, logo a técnica da desinformação, que dá o inteligente respaldo à diplomacia do ‘big stick’, foi mais uma vez aplicada em nosso continente, com a divulgação de que aqueles que se achavam a postos em Thule do Sul eram militares, e ponto final. Uma forma de insinuação de que seriam não técnicos em assuntos de meteorologia e/ou hidrográficos – a quase totalidade viera da Marinha, um da Força Aérea, nenhum do Exército, e sim uma parcela recuada do efetivo que estivera subordinado ao general Menéndez, como o grosso da tropa, sem outra missão que não fosse defender palmo a palmo das forças colonialistas aquelas ilhas enquanto em poder dos argentinos.

Igual técnica funcionou de modo a atribuir a fontes militares de Buenos Aires e com o intuito óbvio, não de comprometer o reino de Elizabeth mas de expor ao ridículo uma república sul-americana, versões como a de que os ingleses que tomaram as Sandwich do Sul, desembarcando em Morell, o fizeram atirando nos argentinos em serviço nessa ilha, quando o comunicado emitido dia 20 pelo Estado-Maior conjunto indicava que vinte minutos após terem sobrevoado a estação “helicópteros britânicos iniciaram um ataque com metralhadoras”, sem especificar alvos. Dava, contudo, a entender que o ataque, como não poderia deixar de ser, fora para intimidar. Sem que impusesse o sacrifício de vidas humanas, para evacuar o local – espécie de capital do terceiro arquipélago (re)conquistado para uma Coroa distante 15 mil Km do teatro de operações do Atlântico Sul e reproclamado Departamento das Ilhas Falklands, como as Geórgias, pela sra. Thatcher.

Tecnicamente e a nível já de terrorismo, a guerra prosseguiu, com a retenção de oficiais argentinos na virtual condição de reféns, objetivando em princípio algo mais que uma suspensão de hostilidades. Acrescente-se a capitulação da Argentina na batalha diplomática pela soberania sobre as Ilhas Malvinas (Saint Malo, nome original das ilhas, dado por marinheiros franceses séculos antes de os ingleses velejarem por lá), há muitos anos ferindo-se no marco das Nações Unidas e tão ou mais desleal que a que sepultou jovens dos dois lados em águas e terras atlânticas, é dizer, das antigas Províncias Unidas do rio da Prata. Como não estava sendo fácil alimentar algumas centenas de prisioneiros, tanto mais por serem eles oficiais, a briosa Inglaterra, com milhões de desempregados como o plebeu que foi dar com os costados nos aposentos da Rainha, teve o seu repente de lucicez ao libertar os reféns para que comessem em casa – às custas de uma república mergulhada na pior crise de sua história, porém auto-suficiente em grãos, carne e petróleo, ao contrário do reino de Elizabeth, cuja auto-suficiência resume-se nas libras da burra de seus banqueiros.

Nem ao governo brasileiro os artífices da desinformação pouparam.

Desinformação é...

Entende-se por ato de copidescar (de copy desk) textos à mão – a.i, ao tempo da máquina de escrever, da linotipo e, bem atrás, das caixas de tipógrafo.

Em nota distribuída pelo Itamaraty dois dias após a rendição de facto e formal argentina no arquipélago conflagrado e que, pelos termos claros, precisos e incisivos, dispensava o copy, tanto mais por encerrar, ou esgotar, a própria notícia, acabou sendo esvaziada, deliberada ou irrefletidamente, por boa parte de nossa imprensa: alguns órgãos, tidos como incondicionalmente voltados para os superiores interesses de nosso país surpreenderam pela parcialidade do material que divulgaram acerca do conflito no Atlântico Sul colocando-se durante todo o seu desdobrar à sombra e do lado da Union Jack, aquela mesma desfraldada por duas vezes em nossa pacata Ilha de Trindade, com a proverbial arrogância que cunhara a idade de ouro da pirataria – o arreio do ‘seahorse’ do Partido Conservador britânico.

C r o no l o g i a

1. Em 1767, um ano depois de estabelecer (clandestinamente) Port Egmont no lado ocidental das Malouines, tal como os primeiros exploradores das ilhas em questão, os franceses, as tinham nomeado ao se fixarem na parte oriental, isso em 1764, a Inglaterra, que ameaçava, então, assenhorear-se do arquipélago, é interceptada pela Espanha. Esta, já com os seus direitos reconhecidos pela Corte de Paris sobre o porto fundado por Louis de Boungainville e de quem recebera o nome. Tratava-se de Port Louis, na ilha que os espanhóis denominaram Soledad.

2. Em 1771 a Espanha restitui Port Egmont (suas instalações) aos fundadores desse terminal de comércio e navegação, ante os reclamos de pequena colônia que se formara nos arredores. Passam-se, porém, três anos e, tendo-se convencido de que nem árvore que desse madeira para cachimbo crescia por aqueles fins de mundo, a Inglaterra abandona o lugar, sai de cena. Cai o pano mas não tardou a subir de novo, dessa vez para um longo ato, que se estenderia por 34 anos, com 19 espanhóis sucedendo-se no papel principal, o de governador das Malvinas. Dentro desse período, em 1806, a Inglaterra lança um ataque sobre Buenos Aires, e coube a um francês, Santiago de Liniers, comandar a expulsão da turba invasora. Outros sacos de pipocas estouram na platéia até se organizarem as Províncias Unidas do rio da Prata, que afirmam seus direitos legítimos, provenientes de uma herança espanhola, sobre as Malvinas, com a entrada em cena, em 1820, de uma fragata chamada Heroína. Assim foi que nesse mesmo ano assumia o primeiro governador platense daquelas ilhas: Daniel Jewitt, que já no ano seguinte era substituído por Guilhermo Mason.

3. Em 31 de dezembro de 1831 a corveta norte-americana Lexington aportava do lado oriental das Malvinas, com bandeira francesa para despistar. O comandante, Silas Ducan, com seus homens, logo depois de render o destacamento local passou a destruir, a incendiar tudo que encontrava pela frente, inclusive residências de civis. Queria a cabeça do argentino Luis Vernett, acusado de fazer o mesmo que os ingleses faziam e oficialmente: pirataria, e que sucedera na década anterior a Pablo Araguati no cargo de governador das ilhas, tendo-se destacado como defensor da preservação dos leões marinhos e de outras espécies ameaçadas por navegadores piratas. Ducan acaba arrastando para sua corveta um punhado de colonos e outro de escravos.

4. A 3 de janeiro de 1833, valendo-se do que os norte-americanos haviam feito lá dois anos atrás, os ingleses tomam de assalto o arquipélago, descem a ‘celeste y blanca’ e destituem José Piñedo, sexto governador das antigas Malouines; Falklands é pura invenção de descobridores daquilo que fora descoberto por Américo Vespucio 186 anos antes da descoberta por John Strong. De parceiros já no ocaso do século XX da direita estadunidense, no governo de Ronald Reagan. Acrescente-se que a Guerra das Malvinas foi declarada em 1982 por Margaret Thatcher, a ‘Dama de Ferro’, da tribuna do parlamento britânico, indignada com a ocupação das ilhas de frente para a Antártida por tropas do tenente-general Leopoldo Galtieri. A inglaterra contou com o apoio logístico dos Estados Unidos e do Chile de Pinochet, além da OTAN, que lhe deu todo o suporte de que necessitava para vencer um país da América Latina que surpreendeu com os seus Exocet, adquiridos na França. Ainda hoje, não têm sido poucos os brasileiros e outros cidadãos da própria América Latina que, por ignorância na interpretação de factos históricos, atribuem ao último dos presidentes a fechar o ciclo ditatorial na Argentina a culpa pela guerra no Atlântico Sul. Começam por ignorar, quem sabe deliberadamente, o dedo, não da CIA mas da TFP (Tradição, Família e Propriedade) no petróleo que motivara o conflito austral de 82. Periódicos argentinos, entre eles o La Nación,” publicaram como matéria paga extensos artigos da TFP portenha dirigidos a Galtieri fazendo-lhe ver o “mal supremo” que seria chegar ao comunismo através de uma escalada de valores patrióticos.

5. Em 1965, a Assembléia Geral das Nações Unidas cria o Comitê de Descolonização, alcançando as Falklands/Malvinas; a Grã-Bretanha empina o nariz e, seis anos depois, inicia missões especiais de reconhecimento das riquezas da plataforma marítima do arquipélago, sobre as quais o Foreigh Office procurava, se não guardar certo sigilo, espalhar pelo mundo de comum acordo com a comunidade de informação dos Estados Unidos, que seria leviandade pretender-se extrair petróleo em quantidades, por exemplo, que compensassem investimento de lordes numa cadeia de 12 mil quilômetros quadrados de brejos e rochas.

6. A 2 de abril de 1982 a Argentina resgata as suas Malvinas, não por meio pacífico, visto que por este meio haviam fracassado todas as tentativas de um justo consenso no foro competente, o da ONU, a Inglaterra a brandir sempre o seu poder de veto e de persuasão, além de gestões diplomáticas anteriores a 1965, mas recorrendo às armas, recurso idêntico ao utilizado pelo Reino Unido para tomar, 149 anos atrás, as ilhas dos platenses, aquelas que à luz ainda que bruxuleante do Direito Internacional lhes pertenciam. Acrescente-se que o destacamento inglês dito de elite encontrava-se em Port Stanley, que viria a chamar-se depois Puerto Argentino. Tal destacamento, em relação à superioridade numérica dos portenhos, antes de render-se à evidência cristalina de uma reconquista, abria fogo em nome da Rainha, causando a única baixa do 2 de Abril de que se teve notícia entre os desembarcados, e deixando

alguns feridos.

7. E enquanto os ingleses tentavam por todos os meios e modos quebrar a resistência dos argentinos, usando até bombas de fragmentação – guerra suja em Goose Green: aviões anfíbios estadunidenses decolavam do nosso Amazonas carregados de ouro e outros minérios desviados das minas exploradas pela Companhia Paranapanema. A denúncia partiu da Câmara Municipal de novoAirão e teve grande repercussão, à época, na Amazônia.



quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Fantasia do terror: a nova ideologia

Donald Rumsfeld, ex-Secretário de Defesa, inclusive contra a gripe das aves e a suína

Sete anos após o presidente George W. Bush lançar o seu ultimato a Saddam Hussein para abandonar terras islâmicas, e de ter uma conversa reservada com Deus, de quem ouviu, o presidente contava depois – ‘George, entre com suas tropas em marcha batida no Iraque! (Foi o que informou a BBC de Londres na ocasião) – Estados Unidos e Reino Unido, carne e unha, iniciaram sua ofensiva com mísseis, acompanhados em telinhas de cinema-verdade instaladas no QG atapetado de veludo das operações por controle remoto, e despejados sobre Bagdá. Já no dia 1° de abril (2003) Bush declarava cumprida a missão que lhe reservara, só podia ser, não Deus mas o arrais da Barca do Inferno, auto de 1516 do dramaturgo português Gil Vicente!
Anos 80, uma das estrelas do firmamento estadunidense, numa época de vendaval na Casa Branca e seus serviços de Inteligência, Donald Humsfeld, que viria a ocupar de 2001 a 2006 o cargo de secretário de Defesa, se incumbia de traçar as linhas mestras do que se conhece hoje por “projeto para um novo século”. Como já devem saber, por outro artigo, em espanhol, deste meu blog, A História no Jornal), não se tratava de outra coisa senão de derrubada do World Trade Center: um projeto de logística destinado a provocar comoção planetária, se assim se pode defini-lo de acordo com a régua e o compasso de estrategistas do “massacre de Halloween”, uma fantasia de terror em baile de gala a que não falta, para aliviar tensões, passos a la Michael Jackson. Pelo olhar sereno da História, a chamada ‘guerra fria’ não se acabara sob o foco dos escombros produzidos do World Trade Center. E as festas de Halloween, a julgar pelas transcrições de atas das reuniões a portas fechadas das comissões técnicas do parlamento, em especial a da Igreja: a mais ativa na medida em que espocavam os escândalos, ironicamente expressavam “a raiva de todos os contribuintes norte-americanos” contra o statu quo. A fantasia do terror foi mencionada no Congresso, em memorando a respeito de escândalos como Watergate e Koreagate, da prática de operações encobertas referentes a assassinatos, inclusive o de Omar Torrijos, no Panamá, morto em ‘acidente aéreo’ intencional, de líderes estrangeiros, lá pelo ano de 1975, tudo isso refletindo-se acintosamente na face de um parlamento em que Jack Murtha Jr. era uma dessas raras figuras a se levantarem contra a política de tempos tão conturbados e libidinosos, sem olvidar-se o caso da estagiária a desabotoar as calças de um presidente em seu gabinete. Além do mais, sem que precisassem consultar o Decameron. E Jack Murtha, falecido agora em fevereiro de 2010, era do Partido Democrata, representava 12 parlamentares da Pennsylvania, tendo sido reeleito sucessivamente a cada dois anos, a partir de 1974. Uma figura, pois, de respeito para os americanos e invejável prestígio.
Em 13 de dezembro de 2003 o Exército americano descobre Saddam, escondido num grotão próximo a Tilkrit, capital da província de Sallad Ad-Din, impondo-lhe estranha e humilhante rendição, não de vencido numa guerra, que não houve, posto que o Iraque não tinha mais como oferecer-lhe resistência, uma vez ocupado por adversários naturais do regime husseiniano,
e sim de uma só força bélica, a estadunidense, com o apoio do reino de Elizabeth II com os seus gurkas (africanos experts em decapitação, levados, entre outras guerras, à das Malvinas; mas não confundir gurka com burka, que é o véu usual entre mulheres islâmicas).
Em 30 de dezembro de 2006, os Estados Unidos da América levam o estadista árabe ao patíbulo dentro de seu próprio país, o Iraque. Saddam Hussein entrega-se de cabeça erguida a seus algozes. Anos 80, aos 69 anos cai ele, enforcado, no catafalso, o semblante aparentemente tranqüilo, os olhos desvendados, após haver balbuciado uma oração. Que só Deus ouviria.
Em junho de 2004 o governo interino de Alauí se alça ao poder no Iraque e, decorridos seis meses, realizavam-se eleições, seguindo-se a aprovação ad referendum, em 15 de outubro de 2005, de nova Constituição, que viria substituir a deixada por Saddam. Em dezembro do mesmo ano são convocadas novas eleições legislativas e em maio de 2006 Chii nuri al Malik compõe seu governo.
Quanto a George W. Bush, o arrais da Barca do Inferno deve estar a esperá-lo...
E vale refletir em que George W.Bush, depois de tudo que fizera, não pôde resistir aos impulsos de um ‘mea culpa’ que deve ter calado fundo em suas entranhas. As fotos de Abu Ghraib, que correram mundo através da imprensa e da Internet, especialmente pelas mãos de milhões de internautas, ficaram como um triste legado para futuras reflexões sobre até que ponto chega a baixeza de uma correlação de forças do mal. Permanecem as palavras de Abdel-Bari Atwan, à época, editor do jornal, rodado em Londres, Al-Quds al-Arabi em entrevista ao canal de tevê Al Jazeera: “A opinião pública árabe se pergunta quem deve ser julgado e justiçado: Saddam Hussein, que preservou a unidade do Iraque, sua identidade árabe e muçulmana e a coexistência de comunidades étnicas como a dos xiitas e a dos sunitas ou aqueles que mergulharam o país numa sangrenta guerra civil!”.
Saddam já havia sido executado, sem que nenhum dos juízes aprovados por Washington o impedisse – dois outros acolhiam o voto dos advogados de defesa e estes acabaram sendo eliminados – quando Bush surpreende olhando-se no espelho. Simplesmente, se dá conta de que Saddam Hussein caíra numa armadilha, montada não se sabe por quem, se pelo próprio Bush ou por Humsfeld, que falava e, às vezes, também agia pelo presidente. De todo modo, Bush desabafa ou finge desabafar, já com Saddam no estrado da morte. Diz ter sido ele assassinado, por vingança, o que não foi bem digerido pelos guardiães do petróleo árabe.


segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Bloqueio até a Bangladesh

Batalha de Stalingrado – marco da Vitória soviética sobre as linhas alemãs


Mal deram fim à União Soviética e os sobreviventes das cinzas daquele gigante asiático logo cuidaram de separar os seus ossos para a formação de novos países, o que, por sinal, já era esperado face à iminência da Guerra Fria. Deve-se reconhecer que o que houve antes da Guerra Fria foram dois conflitos com um mesmo inimigo: o Eixo, este constituído pela Alemanha Nazista, o Império do Japão e a Itália de Mussoline. Em suma, a ll Guerra Mundial, ou Grande Guerra, se dividira em dois blocos distintos: as Forças Aliadas, capitaneadas pelos Estados Unidos da América, e as Forças Patrióticas, da União Soviética, assim designadas por Moscou e que foram as primeiras a pisar solo alemão cumprindo-se, desta maneira, a troca de bandeira no alto do imponente edifício do Reichstag, ou seja, descia a bandeira Nazi e subia a da URSS.
Os americanos não se deram por vencidos nessa inusitada corrida dir-se-ia ao “pau de sebo” do Palácio do Reishstag... Fizeram foi lançar-se febrilmente à produção de toneladas de fitas cinematográficas mostrando ardilosamente terem sido eles e não os russos os vencedores da II Guerra Mundial. Quem dos anos 40\50, por aí, não se lembra de pretensos filmes heróicos de mocinhos que, nos telões, sempre ganhavam no corpo-a-corpo, inclusive, ou principalmente, dos nipônicos! Isto, sem recuar-se ao tempo das diligências, dos faroestes, dos revólveres fumegantes - indígenas derrubados de seus cavalos a trotes da civilização como para reproduzir a conquista do Oeste, séculos adiante, nas Olimpíadas de Los Angeles. A única exceção neste imbróglio, pelo que se depreende dos factos de um breve período de relax, foi Canção da Rússia, com o americano Robert Taylor contracenando com uma soviética, a selar, para Winston Churchill ver, uma política de boa vizinhança entre as duas superpotências. Enfim, a Paz, pensava-se. A Paz, entanto, pelo que nos pareceu, não chega a durar metade das projeções de Canção da Rússia.
O senador republicano Joseph McCarthy empoleira-se à tribuna do parlamento americano e seu nome se estende a macarthysmo, o mais negro ou um dos mais negros períodos da História dos Estados Unidos. Quando atores e atrizes de cinema, televisão, rádio, artistas de modo geral, incluindo-se novelistas, todos acusados de ligações com o comunismo internacional, em destaque a dramaturga judia Lillian Hellman, que não teve medo de McCarthy, enfrentando-o de peito aberto. E Taylor, ao contrário, praticamente se penitenciava de ter sido o galã de Canção da Rússia. Fez pior: passou a dedurar meio mundo em Hollywood. Como paga, McCarthy o libera.
Começara a Guerra Fria, com o casal de judeus Ethel e Julius Rosenberg, ambos cientistas americanos, que acusados, sem provas, de vazar segredos atômicos dos Estados Unidos para a União Soviética, são sumariamente executados na cadeira elétrica de Sing Sing, malgrado os pedidos de clemência que chegavam de todos os lados à Casa Branca.
À Guerra Fria seguiu-se uma seqüência de acontecimentos puxados pelo episódio oficialmente mal contado da derrubada do Word Trade Center, bastando o depoimento do porteiro da Torre Norte do WTC (não levado a termo por razões óbvias) em que afirmava ter ouvido explosões de dinamite no complexo de edifícios, como outras pessoas também disseram ter ouvido, mas logo forçadas a calar-se - para se chegar aos criminosos: altas patentes militares do Governo Bush.
O simples chamuscamento do Pentágono, com o sacrifício de uma legião de imigrantes, legais e ilegais: os hispanos, que incluem tanto cidadãos de língua espanhola como, ainda, de língua portuguesa, e que formavam a maioria, pelo que se sabe, daqueles que trabalhavam ou transitavam diariamente dentro do World Trade Center. As duas variáveis se traduziam no arquétipo do “Projeto para um novo Século”, matriz estratégica de futuras ações militares dos Governos Bush, pai e filho. Tal projeto consistia basicamente em provocar dentro dos próprios Estados Unidos uma tragédia de tal magnitude que pudesse sensibilizar a opinião pública mundial, em especial das nações com o pires na mão, girando qual borboletas em redor da luz.
A autoria, pois, da tragédia acaba sendo lançada aos ombros do “terrorismo islâmico”, que pela agenda da Casa Branca sucedia à figura pleonástica de Guerra Fria.
(Para maior compreensão do Projeto para um novo Século, recomendo a leitura em A História no Jornal, de outro texto meu, originalmente redigido em espanhol, por título El 11-S y sus raíces, dividido em 5 partes).
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Outras ocorrências no mundo, como a chuva de mísseis sobre Bagdá, varrendo grande parte da própria história da Humanidade, e o covarde enforcamento de Sadam Hussein, entre outros crimes brutais do Império americano, deram continuidade ao Projeto de um novo Século.
O que virá agora? Mais derramamento de óleo de um petroleiro no Golfo do México, a espraiar-se sobre a flora e a fauna de uma região embora ligada não por laços afetivos aos Estados Unidos, único país do mundo a negar colaboração com outras potências para a saúde do universo!? Assiste-se a um levante da Natureza contra a mortandade de peixes, o fogo a crepitar nas matas em verdadeira devastação florestal à conta dos abates desenfreados para o mercado aberto de madeira; agora, até na Rússia made in USA, uma vez desmembrada a antiga União Soviética pelo capitalismo internacional e sem nenhum critério de proporcionalidade territorial e demográfica em relação às nações emancipadas. Em Gaza, que é uma mancha no Oriente Médio, vivem pouco mais de 1 milhão e meio de palestinos, dos quais cerca de 1 milhão são refugiados. Devido ao bloqueio imposto por Israel à faixa de Gaza, lá não entram alimentos, material de construção e nem combustível. Israel endureceu o bloqueio de víveres a partir do seqüestro de um de seus soldados pelo exército de Hamás.
E Bangladesh? Em pele e osso, ainda.

sábado, 24 de julho de 2010

Os camaleões do "trust"

Os camaleões do ‘trust’

Aqueles que pensam que serviço de espionagem é privilégio de um James Bomd dentro e fora das telas cinematográficas, quer dizer o do cinema, – ao parecer, já aposentado engana-se Tirante o James Bond com sua bengala de fazer mágica debaixo de uma lona de circo, tivemos muito atrás, na I Guerra Mundial, a holandesa Mata Hari, cujo nome verdadeiro era Margaretha Geertruida Macleod, capturada pelos alemães em princípios do século XX. Alinha-se, entanto, como a central de inteligência mais profícua a soviética KGB, hoje aos cuidados de Putin, com os já célebres mísseis, por via das dúvidas, apontados para o Ocidente, e seguindo-se a tão orquestrada Central de Inteligência dos Estados Unidos da América, a CIA.
E sabiam que na Cidade Maravilhosa, anos antes da mudança da capital para o cerrado do Planalto Central, já funcionou um serviço se bem que menos de espionagem do que de contra-espionagem? E o inusitado é que esse serviço operava 100% diuturnamente em defesa dos interesses brasileiros. Outra curiosidade é que ele se achava instalado praticamente dentro da Embaixada Americana!
O chefe desse serviço era um grande e corajoso jornalista, sisudo, de poucas palavras, um dos editores de A Noite, prestigioso órgão da imprensa brasileira que fazia parte das Empresas Incorporadas ao Patrimônio da União. O jornalista, impecável em seus ternos feitos, tudo indicava, sob medida, alto, sapatos luzindo, a olhar sobranceiro por cima dos ombros de quem estivessse à sua frente, chamava a atenção pelo seu porte de militar em desfile pela data nacional da Independência americana. Um tipo escrito de gringo típico de Washington. Falava a língua inglesa com muita fluidez e seguia uma rotina no edifício de A Noite: apanhava um exemplar na mesa do contínuo, que o guardava para ele, e se dirigia ao elevador, descendo no piso da Rádio Nacional, onde normalmente ficava não mais que meia hora. Às vezes, entretanto, esticava um pouco mais, para uma troca de tapinhas com Heron Domingues, que fazia o Repórter Esso na Nacional sem que tivesse qualquer ligação com o “trust” do petróleo. (Tanto assim era que a morte do presidente Vargas foi muito sentida por Heron, a ponto do famoso locutor, que a noticiara com a voz trêmula de emoção, dias depois sofria um infarto fulminante).
E em dependências da Embaixada Americana o personagem misterioso passara meses a reproduzir o material que lhe interessava para compor um dossiê completo sobre as atividades escusas da Shell no Brasil. Tratava-se, portanto, daquilo que se conhece por contra-espionagem.
“E não usa chapéu”, uma vez, pensei com estranheza e certa desconfiança. “Nem cachimbo inclinado como o de Sherlock Holmes...” Era isso! Um detetive, pode ser. Daqueles a esvoaçarem pelas brumas de uma Londres com seus pesados capotes.
O tipo era mesmo de detetive, investigador, algo assim. Muito embora o nome dele, verdadeiro, pudesse ser o de algum personagem que Conan Doyle houvesse esquecido numa gaveta do seu escritório ou tendo-se já esgotado sua passagem genealógica pelo mundo.
Epitácio Caó, o jornalista investigativo (como se o definiria hoje) nome de personagem ou de escritor de ficção policial, viu o trust por dentro.
As artimanhas da Shell chegaram através dele em forma de libelo ao Congresso Nacional - como uma bomba. E logo se constituiu naquele poder uma Comissão Parlamentar de Inquérito a fim de apurar as gravíssimas denúncias de Caó, muito bem fundamentadas, documentadas, irretocáveis.
Com o selo de Panfleto, uma revista e editora de esquerda, quando Vargas já havia dado o seu tiro no peito - para evitar que o Brasil fosse envolvido pelos tentáculos do imperialismo, publicava-se sob grande expectativa o livro-bomba de Epitácio Caó, provocando a instalação de uma CPI no Congresso, e que logo nas primeiras linhas o Autor o justificava:
‘Aos que não me conhecem e aos que desavisadamente lerem este trabalho devo uma explicação sobre minha atitude em relação ao “trust” do petróleo.
É que, tendo eu trabalhado para os dois maiores grupos - Esso e Shell – neste último durante quase sete anos, e tendo me afastado de ambos, poderia ser mal interpretado o meu gesto’.
Enfatiza que “a verdade pura e simples, porém, é que nunca pensei em fazer carreira no ‘trust’. E que logo nos primeiros instantes sentiu que ‘todo aquele ambiente se chocava com os meus ideais de brasileiro, embora não deixasse de ser um interessante campo de estudo e observação para um repórter. Acrescentando: ‘À proporção que me aproximava, então, cada vez mais, dos elementos de primeira grandeza da administração do “trust”, conhecendo seu caráter, sua mentalidade e sua conduta, pela natureza de minhas funções, maior era o meu sentimento de brasilidade”. Caó afirma ter entrado para o ‘trust’ já se preparando para dele sair. E que a prova disto são fatos e documentos deste seu livro, que datam mais ou menos do seu ingresso no ‘trust’.
“Eu vi o ‘trust’ por dentro”, título do livro, saiu três anos após a morte de Getúlio Vargas e em meio à tramitação da CPI do petróleo instituída no Congresso para apurar a denúncia das atividades sorrateiras da Shell e da Esso em nosso país.
Epitácio Caó trabalhava na Shell como um dos redatores da revista deste ‘trust’ – por sinal, palavra proibida em sua Redação. Preocupava-se o ‘trust’ em ser simpático à classe militar brasileira. Na legenda de uma foto da revista, lê-se que “as classes armadas são o esteio de toda a estabilidade política do país”. E que, “por isso, é preciso penetrar nelas, e um dos meios excelentes para tal fim são os aparentemente inofensivos ‘house magazines’; a legenda, então, mostra, a reprodução de capas das duas revistas com motivos militares, ou seja: Batalhão de Guardas e Polícias Militares.
Nosso personagem dir-se-ia ‘sherlockeano’ fala no sacrifício de heróis de uma batalha que, no Brasil, impulsou Vargas à renúncia à própria vida como um passo decidido rumo a uma verdadeira independência econômica nacional. Sem deixar de rememorar episódios da Guerra Fria – “incentivada desde que o petróleo deixou de ser assunto proibido. Sim, porque houve época em que a tranqüilidade dos ‘trusts’ era absoluta, pois ninguém poderia falar sobre petróleo sem arriscar-se a ir para a cadeia”...
O grupo Shell em nada difere da Esso, segundo o Autor, “quanto ao seu extraordinário interesse pela conquista do petróleo brasileiro, empenhando-se a fundo por consegui-lo, embora usando de outras armas e artimanhas’... Comenta que “quando se fala em ‘trust’ do petróleo e se lhe procura combater a ação quem aparece sempre em foco é a Standart (Esso), enquanto a Shell permanece esquecida, como se estivesse alheia à situação, apenas vivamente empenhada em contribuir para o desenvolvimento de nosso país, fornecendo-lhe os derivados do petróleo de que este tanto necessita... “E este curioso fato é muito comentado nas altas esferas da administração da Shell, como sendo uma das grandes vitórias dos seus métodos de ação em nosso país, rigorosamente como convém ao estilo frio e calculado de toda espécie de capitalismo ‘colonizador’ inglês”.
A fim de saber-se em que deu aquela CPI, o caminho natural seria uma consulta aos Anais do Congresso, se é que ainda existam lá transcrições plenárias sobre um assunto que manteve de pé os parlamentares da época em que encostaram à parede, ou pensaram haver encostado, os camaleões do ‘trust’. Desconhece-se, porém, se entre aquela época e a atual, em face do interregno imposto pelo ciclo ditatorial recente, algum parlamentar tenha ao menos pensado em revolver o que se passou pela tribuna e nos gabinetes da Casa.
Outro aspecto da infiltração do ‘trust’ na vida social do brasileiro refere-se, pelo que nos passa o Autor, a uma aparente disputa de liderança entre a Esso e o ‘trust’ anglo-holandês, isto é, a Shell. Conta que sob o “pomposo rótulo de ‘Filmoteca Cultural Shell’, o ‘trust’, que não gosta da palavra ‘nacional’ organizou um serviço de exibição de filmes a domicílio - leia-se estabelecimentos de ensino, quartéis, departamentos do governo, etc – que dispõe de uma centena de películas, com várias cópias, 90% das quais tecnicamente produzidas para levar ao espectador da maneira mais sutil e inteligente a mensagem de propaganda do ‘trust’.
Ocupa-se também o Autor da discriminação racial que havia nos escritórios da Shell e da Esso, não sendo admitidos funcionários que não fossem brancos, “embora nas páginas dos variados ‘staff magazines’, isto é, nas publicações destinadas aos empregados daquelas companhias estrangeiras de petróleo aparecessem constantemente “fotografias de negros”. (Vale considerar tais observações de Epitácio Caó de quando estava escrevendo o seu livro).
O livro vem prefaciado, provavelmente, pela ininteligibilidade parcial da assinatura (lê-se claramente abaixo do prefácio, a finalizar os caracteres iniciais, o nome Vargas, e levando-se em conta o talhe de letras e o estilo de redação), por Alzira Vargas.
Alzira Vargas, autora de “Getúlio Vargas, Meu Pai”, no prefácio de “Eu vi o ‘trust’ por dentro” recomendava a leitura deste livro como um ato de brasilidade. Sublinhava tratar-se de “um libelo realmente sério e honesto”. Referindo-se ao Autor como um “moço intrépido e destemido que decidiu correr os riscos de dizer a verdade, somente a verdade, denunciando, documentadamente, a sabotagem contra o Brasil promovida pelos senhores do monopólio mundial de combustíveis líquidos (...). E que ele estava “ante uma atraente oportunidade para localizar um dos ângulos mais expressivos da obra de Getúlio Vargas e de sua luta pela emancipação econômica do país”. Dizia mais: “Meu pai se antecipou a outro qualquer estadista brasileiro na perfeita compreensão do que vale a ideologia do desenvolvimento, isto é, o Nacionalismo, num ‘país subdesenvolvido’ – eufemismo sob o qual se oculta a exploração colonialista”...

Em tempo:
Nacionalismo e, mesmo, nacional, segundo o Autor de Eu Vi o ‘Trust’ Por Dentro, eram termos rigorosamente proibidos na Redação.





segunda-feira, 19 de julho de 2010

A ponte Havana-Madri

A ponte Havana-Madri
Os irmãos Castro estão esvaziando de dissidentes os cárceres de La Habana em cumprimento a acordo firmado com a Igreja Católica e o governo de Espanha, pelo qual esses presos políticos seriam postos em liberdade, como, de facto, já o estão sendo, por etapas, a fim de viverem em terra espanhola. Acompanhados de suas mulheres, as Damas de Branco, que experimentaram lampejos de fama durante o breve período em que desfilaram por “calles” de Cuba com cartazes clamando pela luz do dia para seus familiares encarcerados, uns por crimes comuns e outros por atentados à segurança do Estado. Desnecessário acrescentar as ações sediciosas praticadas por antepassados seus na ilha caribenha, sob o guante de Fulgêncio Batista, que se cercara de mafiosos de todos os talantes em redor do pano verde de um cassino que funcionava em um hotel, presentes, às vezes, para fazerem a sua ‘fezinha’, artistas de Hollywood e, inclusive, o primeiro-ministro britânico Winston Churchill com o seu inapartável charuto – de boa folha.
Os cubanos que estão deixando a ilha em vôos oferecidos pelo governo espanhol tiveram suas penas revistas com a interferência do Vaticano, integrando um grupo de 75 opositores ao regime castrista. Alguns chegaram à greve de fome, tendo um deles ido ao extremo de recusar alimentos até morrer por inanição, daí aparecerem nas ruas as chamadas “Damas de Branco”, sem a repercussão que esperavam ter da imprensa.
Tudo começou na primavera de 2003, quando a Revolução Cubana vinha se sentindo ameaçada, como de outras vezes, a partir do episódio da fracassada invasão de Cuba através da “Bahia de Los Cochinos’, próximo ao balneário de Playa Girón. Anticastristas aboletados em Miami, armados e treinados do lado oculto do governo norte-americano, se lançaram ao mar àquela época, com os seus botes, e ao tocarem a costa caribenha, em Playa Girón, encontram forte resistência, avassaladora, que ficou na memória de cada cubano orgulhoso de sua Revolução várias vezes objeto de sabotagens por parte da CIA e da Máfia lá instalada desde o governo de Fulgêncio Batista, um escroque agalardoado pelos ianques, que lhe permitiam a exploração de cassinos e da prostituição. Cite-se neste particular o ponto mais popular da época, conhecido como “Calle de las Virtudes”.
Em 1º de janeiro de 1959 caía Fulgêncio Batista. Dava-se algo como uma explosão nuclear no mundo ocidental e que se traduzia por Revolução Cubana, acionada por uma tríade de heróis: Fidel Castro, que assumiria o governo com a orientação de seu irmão – Raúl Castro, Che Guevara e Camilo Cienfuegos. Toda a imprensa se mobilizou para cobrir o feito histórico. Talvez a maioria dos órgãos de comunicação do Ocidente, porém, olhasse com certo desdém aquele movimento revolucionário, que feria contundentemente uma tradição da qual os Estados Unidos, principalmente, não abririam mão com facilidade: o imperialismo, seguido do neocolonialismo. De todo modo, estavam lançados os dados.
Do Rio de Janeiro, quando capital da República, o Diário da Noite, órgão dos Diários e Emissoras Associados, de Assis Chateaubriand, enviava ao Caribe o repórter gaúcho José Silveira mais para observar (puxando a brasa para a sardinha dos interesses ocidentais) o movimento encabeçado por Fidel e Che do que, propriamente, para dar-lhe cobertura, fosse com relativa neutralidade.
Umas duas semanas depois voltava José Silveira acompanhado de um repórter fotográfico, trazendo farto material sobre os primeiros novos dias cubanos, tendo-nos ele confidenciado, contudo, no retorno, que se achava impedido de publicá-lo como desejava, por ordem superior mas de fora do jornal. A reportagem, fiel ao que os repórteres testemunharam (já não me lembro quem fez as fotos) saiu, mas tendo-se tirado uns dez exemplares, apenas, como comprovação perante a tesouraria de que fora realizada, acabando por sua publicação normal ser vetada pela alta direção do vespertino da rua Sacadura Cabral e cuja redação ficava alguns andares abaixo de um dos muitos restaurantes do Saps espalhados pelo país - um dos frutos da boa política social de Getúlio Vargas. Pelo menos dois exemplares da edição interrompida a tempo na impressora passaram de mão em mão dentro das oficinas, os gráficos com a primazia da primeira leitura sobre a derrubada de Fulgêncio e seus asseclas. Chateaubriand, ao que parecia, nada tinha que ver com a edição que não chegou a rodar; tampouco Orlando Motta, editor-chefe do DN, jornal que vinha caindo dia a dia, até alguns luminares terem a idéia de argentinilizá-lo no formato, de tablóide, tomando como modelo El Clarín, de Buenos Aires. E trouxeram do pampa portenho um técnico em tablóides para a transformação do Diário da Noite, do Rio. Veio também Alberto Dines, incumbido de executar o projeto, que teoricamente tinha por base a suposição de que o que vendia mesmo jornal eram excelentes colunistas e não o noticiário em si.
Fez-se a transformação, baldeando de Ultima Hora para o Diário da Noite A Vida Como Ela É, de Nelson Rodrigues e a nata do colunismo social de outros jornais.
O resultado não podia ser pior. O Diário da Noite entra em declínio. Em Ultima Hora, que perdera A Vida Como Ela É, logo se apresentou um de seus redatores com uma coluna similar à de Nelson. E tudo foi se acomodando, sem o menor prejuízo para o noticiário geral. Exceto no Diário da Noite, que acabou amanhecendo, dias depois, com o cadeado na porta. Mania de modernidade...
Correm os anos, estamos em outra lua
. Reacende-se um movimento, desatado da Flórida e com o fole da Casa Branca, visando ao derruimento da Revolução Cubana.
Ao que se sabe e por fontes da dissidência castrista, dois dos presos políticos, agora em liberdade, recusaram o vôo humanitário para a Espanha, preferindo ficar em Cuba.