sábado, 29 de novembro de 2008

Sangue de Castela

Sangue de Castela

Exaltar “respeitável tradição diplomática”, como a gestada pelo barão do Rio Branco, apenas para atacar avanços recentes de uma esquerda latino-americana que passou a tirar o sono do Império Americano, e de seus porta-vozes midiáticos, traduz-se por demonstração inequívoca de desespero.

Sobre a questão das reservas de gás natural e petróleo nacionalizadas pelo governo da Bolívia nesse 1º de maio de 2006, em cumprimento à vontade popular expressa em referéndum vinculante, de 18 de julho de 2004, O Globo (7/5/06), em editorial, fala que a diplomacia que atualmente “dá as cartas” é a do “berro, das propostas megalômanas envolvidas em legendas “bolivarianas” (aspas do editorialista) -- e, já agora, da truculência pura e simples”. Acrescenta que, “não por acaso, figuras como o presidente Morales gravitam para a órbita do coronel Chávez, e não para a linha brasileira”.
E qual seria a linha brasileira? Na mesma edição do Globo, Tereza Cruvinel, em Panorama Político, diz ter ouvido do chanceler Celso Amorim que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva “não pensa em fazer nenhuma revolução bolivarista ou socialista, mas governar um país capitalista dentro de regras capitalistas”.
No editorial por título Herança perdida, O Globo sugere (¡Atención, presidente José Luis Rodríguez Zapatero!) derivarem do “sangue castelhano” as “retóricas estridentes” de figuras como o presidente Hugo Chávez, da Venezuela -- o mais fustigado de quantos galgaram d e m o c r a t i c a m e n t e o poder na América Espanhola determinados a varrer de seu solo os velhos e contumazes exploradores externos de seus recursos naturais.
Se os Estados Unidos absorveram da Inglaterra valores ainda que pouco éticos (... “estamos sedentos de terras”, justificava o presidente Franklin Delano Roosevelt a doutrina intervencionista de seu país, em 1906, na III Conferência Pan-Americana, realizada no Rio), mas que os impulsaram a assumir a posição de superpotência, por que negar agora à América sangüínea o direito de integração politicamente correta?
Há uma diferença muito grande em política externa entre os Estados Unidos, seja de que partido for o seu presidente: republicano ou democrata, e a Venezuela que Chávez elevou a República Bolivariana ou a Bolívia que Morales, o primeiro indígena da História da América Latina eleito chefe de Estado, começou a emancipar para seu povo e sem avançar um palmo além de suas fronteiras. Ao contrário do que fizeram, e ainda fazem, os Estados Unidos no lombo de sua História.
Estigmatizam toda e qualquer iniciativa de Hugo Chávez, como a de Petrocaribe, do fornecimento de petróleo aos caribenhos a preços preferenciais: primeiro passo para a criação da Petroamérica, sem que faltem vontade política e fundos suficientes para sustentar a “aliança energética” que se pretende consolidar na América Latina e o Caribe, segundo o governo da Venezuela.
E não param de criticá-lo. Por ter Chávez anunciado como pilares desse projeto o petróleo venezuelano e a medicina cubana, reconhecidamente uma das mais avançadas, e generosas, do mundo.
Por ter ele ousado comprar bônus públicos argentinos por mais de US$ 950 milhões como lance inicial para a criação do Banco del Sur.
É nessas horas que George W. Bush... (Bush, não; não ficaria bem), que Condoleezza Rice, princesa guerreira, para os íntimos, deve sentir as dores do parto.

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