sábado, 29 de novembro de 2008

Tal pai, tal filho*
*UOL EM 8 de março de 2009: EUA ficam mais pobres 16,5 trilhões de dólares e países emergentes terão falta de 700 bilhões de dólares, afirma o Banco Mundial

Eleito em dezembro de 2000 para ocupar a Casa Branca, George W.Bush passou a receber cumprimentos planetários, o que era natural. O governo brasileiro respirou aliviado, na convicção de que, com a derrota do democrata Al Gore, bons ventos haveriam de soprar para o hemisfério Sul favorecendo acordos comerciais com Washington em igualdade de condições. O então presidente Fernando Henrique Cardoso apostava no republicano, a ele se dirigindo em mensagem de congratulações, nestes termos: “Ao colocar as relações hemisféricas como uma das prioridades de sua agenda de política externa, vossa excelência dá-nos a certeza de que, todos juntos, poderemos efetivamente fazer deste o Século das Américas”. Acrescentando: “As condições para isso estão postas, e é com justificável expectativa que nos dispomos a trabalhar para transformar em realidade essa generosa perspectiva”. O presidente Cardoso destacou o aprofundamento do diálogo Norte-Sul como sendo a chave para a “redução das desigualdades” e a “promoção da prosperidade compartilhada nas Américas”. Por estas palavras de Cardoso, teve-se a impressão de que o Brasil caminhava para a construção da Alca, Área de Livre Comércio das Américas. Seis anos antes da eleição de Bush, filho, em 1994, o México firmava o Tratado de Livre Comércio com os Estados Unidos e Canadá, o Nafta. Passam-se mais de dez anos de livre comércio com os EUA e se lê agora no La Nación, de Buenos Aires: “Observadores constatam que milhões de mexicanos ainda não saíram da pobreza”. E foi justamente em 1994, com o ingresso do México no Nafta – uma ponte para chegar-se à Alca pelos planos de Washington, que um grupo de nações estabeleceu como meta estrutural do novo bloco o ano de 2005. Até dar-se o naufrágio na IV Cúpula das Américas, há dias realizada em Mar del Plata. Lá estava o dedo de Hugo Chávez, Washington não tinha a menor dúvida. Assim, a patrocinar o simples apeamento de Chávez do governo da Venezuela, certamente pensaram à saída do Salão Oval, seria melhor se o tivéssemos feito desaparecer de cena de uma vez por todas. Talvez como Omar Torrijos (1929-81) no Panamá, desaparecido em acidente aéreo até hoje discutível. Ou como Manuel Antonio Noriega, que por ter trabalhado para a CIA sob a direção de George Bush, pai, e decidido, mais tarde, servir ao seu Panamá contrariando interesses norte-americanos, já quando Bush alçara-se à presidência dos EUA, passou a sofrer implacável perseguição a ponto de agentes secretos o envolverem com o narcotráfico transformando o seu bunker em depósito de drogas para a imprensa documentar. Os EUA desembarcam tropas na Cidade do Panamá, matam covardemente centenas de civis que ocupavam o bairro El Chorrillo e só dão como missão cumprida quando põem as mãos no general Noriega, levando-o preso para julgamento, e condenação, na Flórida. E Bush, pai, não fizera segredo de sua gana de “eliminar Noriega do quadro político da América Latina”. Bush, filho, não fica atrás do pai em se tratando de Hugo Chávez com a proposta da Alba, Alternativa Bolivariana para as Américas, a um passo, entretanto, de entrar para o Mercosul. A Alba seria, pois, a mola propulsora de um projeto da Venezuela de alianças em torno do seu petróleo com países da região. Mas sabe-se que Chávez é o maior obstáculo encontrado no caminho da Alca. Isto explica o perigo a que estaria se expondo, sobretudo por sua atuação na Cúpula de Mar del Plata, inclusive na chamada Contracúpula. A propósito do golpe de Estado frustrado de 2002 na Venezuela, documentário exibido na televisão brasileira mostrou a clara participação de Washington em manifestações de rua em Caracas, nas quais os golpistas não conseguiram esconder dos cinegrafistas bandeiras norte-americanas..

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